Dádivas de Lembranças
- Cristiane Vaz
- 21 de fev. de 2017
- 3 min de leitura

Edward era um homem feliz, apaixonado por seu oficio, um desenhista extraordinário. Seu fascínio pelo desenho começou aos 14 anos ao observar e devanear em antigos e enormes livros da biblioteca de sua escola. Desde então, todos os dias sentava-se na poltrona do cômodo que mais gostava da casa, e de frente para uma paisagem deslumbrante transcrevia aquilo que via e imaginava para uma folha.
Certo dia Edward e seus amigos encontraram-se para fazer um passeio em um lindo parque próximo as redondezas de sua casa. Fora um dia magnífico! Todos voltaram para casa cheios de alegria. Os olhos brilhavam e tonaram-se espelho de toda a felicidade que sentiam naquele momento, que outrora seria lembrado e julgado como o melhor de suas vidas.
De repente, em meio a toda distração e euforia, um som estrondoso emanou no ar e os atingiu, sentiram um forte impacto e em questão de segundos ficaram inconscientes. Um homem embriagado perdera o controle do automóvel que estava conduzindo e acabara por atingir os jovens garotos.
Edward sofreu um acidente. Acidente este que retirou o movimento de suas mãos. Arrancou dolorosamente a paixão pela arte de desenhar. Acidente que o impediu de fazer aquilo que mais gostava.
O rapaz ficou desesperanço, não acreditara na possibilidade de conseguir voltar a praticar aquilo que lhe dava prazer, e o fazia enxergar o mundo de forma diferente. Edward privou-se de sentir, afogou em mágoas tudo o que abrilhantava sua vida e decidiu nunca mais adentrar naquele cômodo da residência, onde apreciava e realizava-se como desenhista. Se automutilava e julgava incapaz.
Foram anos confusos, onde pássaros negros voavam ao redor de seus sentimentos, deixando-os cada vez mais sem sentido algum. Edward já não sabia discernir o que era amor e ódio, ou se talvez se ambos estivessem mesclados em seu interior, deixando assim tudo que havia em seu coração completamente distorcido. Seu próprio eu estava se tornando desconhecido.
Porventura fosse a manhã mais fria daquele ano e Edward decidiu tomar seu café rotineiro em outro lugar de sua casa, uma velha sala poeirenta, onde havia uma lareira com lenha molhada e macia. Ao entrar no cômodo deu um rápido suspiro como quem fosse fazer algo muito difícil. Suas pegadas ficaram marcadas ao longo da sala até uma poltrona marrom, coberta por um lençol amarelado, diante de uma grande janela, com vista para um lindo bosque.
Ao sentar na poltrona, pegou um caderno de desenhos com o lápis entre as folhas, que aparentemente estava a sua espera. Começou fazer pequenos e lentos traços. Com certa dificuldade, apagava várias vezes os rabiscos que ali fazia e sussurrava para si mesmo:
- Eu sou Capaz!
Os raios de sol começaram a bater em seu rosto, quebrando um pouco do ar gélido que estava fazendo-o tremer, dando então mais precisão nos traços que aos poucos estavam formando a linda vista que seus olhos estavam enxergando.
Uma bela Mulher de olhos cor de esmeralda, de cabelos louros e cachos repousando graciosamente em seu ombro adentrou a sala e disse a Edward:
- Procurei você por toda casa, jamais imaginei que estivesse aqui... Nesse lugar que lhe traz tantas recordações de seu passado. Edward então lhe respondeu:
- Minha querida, estar aqui é muito difícil, não só apenas por estar no lugar que mais me inspirava a fazer o que gosto, mas também por perceber que dediquei quatro anos de minha vida à tristeza profunda.
- De hoje em diante vou seguir meu caminho. Vou mostrar aos meus medos que sou capaz de superá-los e que nada e nem ninguém irá me impedir.
Os dois trocaram um longo olhar e se abraçaram. Edward fez uma imensa mudança em sua casa e também em sua vida. Aquela velha sala se tornou um lindo ateliê e aquele desenho que Edward fez com dificuldade fora transformado em um belo quadro, e acolhia à todos na entrada do ateliê com os dizeres: “ A vida é um constante recomeço, não se dê por derrotado e siga adiante."
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